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Para a sua 7.ª edição, o Docknema seleccionou três ciclos de cinema, destacando uma trilogia da realizadora holandesa Ike Bertels (Ciclo Ike Bertels), que apresenta neste festival a ante-estreia mundial do filme Guerrilla Grannies – How to live in this World (Vovós da Guerrilha – Como viver neste mundo), um conjunto de 14 filmes relacionados com temáticas ambientais (Ciclo Clima, Cultura e Mudança), e ainda quatro produções que exploram a realidade histórica e social do emblemático Grande Hotel da Beira (Ciclo Grande Hotel).

Ciclo Ike Bertels

Em 1983, Ike Bertels realizou em Moçambique o documentário Treatment for Traitors(Os Comprometidos), onde explora um encontro de Samora Machel,  primeiro Presidente da República de Moçambique, com membros do antigo regime colonial português. Um ano depois, filma Women of the War (Mulheres da Guerra), no qual relata a história de Mónica, Maria e Amélia, três mulheres moçambicanas que participaram na Luta Armada de Libertação Nacional. Uma década mais tarde, Bertels renova atenções no país, rodando o filme Guerrilla Pension (Pensão da Guerrilha), actualizando a situação de vida das protagonistas de Womem of the War. Recentemente, a reconhecida realizadora regressou a Moçambique para entrevistar novamente Mónica, Maria e Amélia, dando forma ao documentário Guerrilla Grannies – How to live in this World(Vovós da Guerrilha – Como viver neste mundo). Pelo seu interesse e relação com Moçambique, presta-se nesta 7.ª edição ininterrupta do Dockanema uma merecida homenagem à realizadora holandesa, dedicando-lhe um ciclo exclusivo.

Women of the War | Mulheres da Guerra

Ike Bertels, Holanda, 1984, 50’, VO Português e Línguas locais de Moçambique / legendas Português

Um retratodocumental detrêsmulheres moçambicanasque lutaramdez anos paralibertar o seu paísdoscolonizadores portugueses. Após a independência, em1975,Mónicafoi escolhida paraser membrodo Comité Centraldo Governoda Frelimo.Maria, mãe de cinco filhos, mudou-se paraMaputojuntamente comseu marido, para estudar.Améliatornou-secostureiradeuniformes do exércitona provínciade Niassa.As históriasdas suas vidas acabam por se entrelaçar, mostrando a importância políticaepessoaldasua luta pela independência.

Guerrilla Pension | Pensão de Guerrilha

Ike Bertels, Holanda, 1994, 51’, VO Português, línguas locais de Moçambique / legendas Português

 Neste documentário a realizadora Ike Bertels acompanha a história de três guerrilheiras moçambicanas, Mónica, Maria e Amélia, num momento degrandes mudanças. Naantiga República Popularde Moçambique, realizam-se as primeiras eleições democráticas. Agora, amigose inimigos têm de coopera rnumsistema multipartidário. Mónicavê o fimda sua época aproximar-se; a sua pensão de coronelé tudo que lhe resta. Améliatem que cultivar um novo pedaço de terra para sobreviver. Enquanto isso,Maria tornou-se uma mulher do mundo.

Guerrilla Grannies – How to live in this world | Vovós da Guerilha – Como viver neste mundo

Ike Bertels, Holanda, 2012, 80’, VO Português, Yao, Nyanja / legendas Português

Durante 10 anos, “três meninas da guerrilha”arriscaram as suas vidaspela liberdade e auto determinação, depois de 500 anos de colonialismo português. Sensibilizadapelas imagens de Mónica, Amélia e Maria que anteriormente já tinham participado em outras duas produções da realizadora sobre a lutade libertação de MoçambiqueIke Bertels filma-as novamente, e mais uma vez questiona-as sobre como os seus ideais de revolução moldaram a nova sociedade moçambicana. Hoje, as vovós lutam comas novas gerações, descobrindo como é viver num mundo globalizado.

Ciclo Clima, Cultura e Mudança

Ciclo composto por 14 filmes, (13 deles seleccionados pelo Goethe Institut, Alemanha) entre curtas e longas-metragens, que destacam a dimensão social das mudanças climáticas: o ser humano como a causa, a vítima, mas também como o responsável por encontrar as soluções para esses problemas. Este conjunto de filmes apresenta um panorama de conecções existentes entre as causas das mudanças climáticas e as soluções possíveis, passando do indivíduo à sociedade, do contexto local ao global, numa larga variedade de caminhos.

The Age of Stupid | A Idade da Estupidez (Goeth Institut)

Franny Armstrong, Reino Unido, 2009, 92’, VO Inglês / legendas Português

Olhar generoso sobre o desenvolvimento da Humanidade perante o fundo de catástrofe global.Com uma habilidade dramatúrgica excepcional, que combina uma narrativa ficcional com elementos documentais, este filme traça o caminho para o desastre ecológicoa partir da perspectivado ano 2050, com a ajuda de flashbacks. Acima de tudo, coloca-se a questão: Porque não podemos evitar o nosso fatal destino enquanto ainda temos a oportunidade defazê-lo? Este documentário não só aponta os contornos objetivos da mudança climática, como também revela as contradições internas e as barreiras culturais que fazem com que esta acção sejatão difícil.

Über Wasser | Acima da Água (Goeth Institut) Udo Maurer, Áustria/Luxemburgo, 2007, 82’, VO Alemão / legendas Português

Em três capítulos sobre três diferentes partes do planeta Terra, este documentário relata o significado existencial da água para a Humanidade. Desta forma, um facto aparentemente banal e óbvio torna-se uma narrativa empolgante sobre a luta diária pela sobrevivência. Apesar da água; por causa da água; sem água, com água. Este filme fala-nos sobre o alagamento e inundaçãoda região do delta do Brahmaputrano Bangladesh; fala sobre oporto de pesca, uma vez próspero, da cidade portuária de Aralsk sobre o Mar de Aral, que agora está perdido nas estepes secas; e fala sobre a guerra diária em África, de todos contra todos por um par de bidões de água limpa em Kibera, a maior favela de Nairobi.

Menschen – Träume – Taten | Pessoas – Sonhos – Acções (Goeth Institut)Andreas Stiglmayr, Alemanha, 2007, 90’, VO Alemão / legendas Português


Enquanto procurava porum modelode comunidade compatível com o futuro, o cineasta AndiStiglmayrdebruçou-se sobreomodelo de assentamento da comunidade Sieben Linden(Sete Tílias), fundada em 1997 e localizado noAltmark, a cerca de 150 km a oeste deBerlim. Cerca de 120 pessoasreuniram-seali,formandodiversos bairros,e estão em busca de um modelo de relação e integraçãode diferentes modosda vida incluindo as áreas do trabalho,lazer,educação e cultura. Mas, nas questões da comunicação,educação dos filhos, poder, e, particularmente, na relaçãoentre homens e mulheres, torna-se claro que os problemasda sociedade em geralsão intensamenterefletidos nestemicrocosmos.

Même un Oiseau a besoin de son Nid | Até um Pássaro precisa de um Ninho

Christine Chansou & Vincent Trintignant-Corneau, França, 2012, 70’, VO Khmer / legendas Inglês

Filme documentário sobre os despejos forçados no Camboja, associados às concessões de terras por parte do governo a empresas poderosas para a sua utilização para fins comerciais. Alguns destes terrenos pertencem ao povo. Aqueles que se atrevem aproteger a sua terra, colocam em risco as suas vidas, perante ameaças, intimidações e um sistema de justiça corrupto. Mas, um grupo de mulheres destemidas, liderado pela carismática VannyTep, continua aprotestar e a resistir.

Ciclo Grande Hotel

O emblemático edifício do Grande Hotel da Beira revisto em quatro diferentes perspectivas. Destaca-se neste ciclo a estreia internacional da longa-metragem “Amanhecer a Andar”, da autoria da realizadora portuguesa Sílvia Firmino.

Amanhecer a Andar

Sílvia Firmino, Portugal, 2012, 97’, VO Português

Noite cerrada e um velho homem guarda uma escola. Amanhece, o homem abre portas e varre chão arenoso quando se ouvem vozes de crianças ao longe cantando o hino de Moçambique. Pela mão deste homem, Augusto, chegamos a um espaço amplo, misterioso, que se revelará fragmentado no encontro com as personagens principais do filme.

Silvia Firminotem uma licenciatura emLiteratura Modernapela Universidade Nova de Lisboa, e uma pós-graduação em Cinema Documentário pela Universidade Lusófonade Lisboa e mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informaçãodo ISCTE. Tem trabalhado como docente, ao mesmo tempo que tem dirigido diversos documentáriose vídeo-instalações apresentadas em festivais internacionais.

Grande Hotel

Lotte Stoops, Bélgica, 2011, 70’, VO Português / legendas Português

No Grande Hotel da Beira, aquele que em tempos foi um dos maiores e mais luxuosos hotéis do mundo, vivem hoje mais de 2.500 pessoas sem água nem electricidade. Esses habitantes, não só tomaram posse do edifício, como manipularam os seus próprios sonhos. Este filme leva-nos numa viagem através do presente e do passado de uma cidade, onde repousam os restos da sua história colonial.

Depois de estudar História da Arte e Ciências Teatrais, Lotte Stoops criouvárias obraspara teatro. Começou a experimentar o filme por curiosidade nassuas intervençõese performances no espaço público. Viajou muito e trabalhou com crianças em situação de crise no âmbito do projecto 24/24. Hoje em dia, ela reúne a sua experiência artística e de intervenção social através da realização de filmes documentários.

Hóspedes da Noite

Licínio Azevedo, Moçambique, 2007, 53’, VO Português

O Grande Hotel, na cidade da Beira, era o maior de Moçambique, na época colonial: 350 quartos, luxuosas suítes, piscina olímpica… Actualmente, o prédio, em ruínas, sem electricidade e sem água canalizada, é habitado por 3500 pessoas. Algumas vivem ali há vinte anos. Além dos quartos, também servem de moradia os saguões, os corredores, as áreas de serviço do hotel e a cave, onde é sempre noite.

Licínio Azevedo é cineasta e escritor. Trabalhou no Instituto Nacional de Cinema, onde acompanhou as experiências dos cineastas Ruy Guerra e Jean-Luc Godard. É um dos fundadores da Ébano Multimédia, empresa moçambicana de produção de cinema.

Grande Hotel

Anabela Saint-Maurice, Portugal, 2007, 52’, VO Português

Em Moçambique foi inaugurado em 1955 um hotel de luxo que aspirava a ser o maior de África. O filme “Grande Hotel “ evoca a história trágica do espantoso edifício, emblema do passado e do presente da cidade da Beira. Tendo como fio condutor o hotel, o documentário acaba por ser um retrato da cidade da Beira, das diferentes vivências e culturas que nela coabitam.

Anabela Saint-Maurice

Anabea Saint-Maurice é portuguesa nascida em Angola em 1959. Há vários anos que se dedica à realização de documentários na RTP – televisão pública portuguesa.

“De Seta foi um antropólogo que falou com a voz de um poeta. De onde veio essa voz? Quarenta anos depois eu me fiz essa pergunta e percebi que talvez a resposta esteja em seus documentários. Finalmente, quando os assisti, fiquei maravilhado. Desde as primeiras imagens, senti mal-estar e desorientação, como se eu não estivesse preparado para ver o que estava vendo. Fui tomado por uma intensa emoção, como se tivesse ultrapassado a tela e encontrado um mundo que eu não sabia que existia, mas que reconhecia aos poucos.
Aquele mundo que estava vendo era minha própria cultura ancestral que estava perto do fim, a um passo de virar mito. […] E de repente eu não estava mais restrito à tela, começava a ver pelos olhos do diretor, como se, no ato de tentar reaver nossas raízes comuns, eu passasse a ver o mundo como De Seta viu. A Sicília que vi na tela era a Sicília de minha família, de meus avós, talvez a última geração a conhecer aquela mesma terra que eu estava vendo diante dos meus olhos. Um lugar onde a luz do dia era algo precioso e as noites, completamente escuras e misteriosas.
Um lugar que se manteve inalterado ao longo dos séculos, em que o estilo de vida era sempre o mesmo, onde os desastres naturais eram parte normal da vida. Morte e destruição eram sempre iminentes. Um lugar onde a religião teve importância primordial, em que os sofrimentos da vida se transformam em calvário. […] As pessoas esperavam a redenção por meio do trabalho manual nas entranhas da terra, no mar, nas colinas, puxando as redes, colhendo o milho, removendo o enxofre. Pessoas que oravam até suas mãos ficarem fatigadas. […] Não foi só o mundo dos meus antepassados que tinha de repente surgido diante de meus olhos, mas também um cinema que já não existia. Um filme que tinha o poder de evocação da religião.
O exame durou menos de uma hora, mas o tempo passou devagar, como se eu tivesse vivido cada único quadro. Era o cinema no seu melhor, um filme capaz de mudar. Eu estava experimentando algo que nunca antes havia conseguido entender. As emoções vividas naquele momento eram desconhecidas para mim. Como se eu tivesse feito uma viagem a um paraíso perdido.”

Nascido em Palermo, em 1923, estudou arquitectura em Roma antes de decidir tornar-se realizador. De Seta filmou até 2006. Sua reputação, no entanto, é mais ligada a dez pequenos documentários realizados na Sicília e na Sardenha entre 1954 e 1959. À excepção de Páscoa na Sicília e Os Esquecidos, que enfocam festas populares, o tema dos demais é o trabalho na pesca, no pastoreio, nas minas, nas lavouras de trigo, na fabricação de pães. Trabalho e quotidiano familiar interligados em narrativas cheias de senso de atmosfera, ritmo e poesia.  O conjunto dos filmes foi lançado em DVD com o título de O Mundo Perdido.Realizou em 1961 o seu primeiro longa-metragem, Banditi a Orgosolo.

Lu tempu de li pisci spata
Vittorio de Seta, 1954, 11’

Nesta bela temporada o peixe espada vem até as águas quentes que separam a Sicilia da Calábria para botar seus ovos. Aqui, o homem está à espera dele para matá-lo. É uma pesca muito antiga, cujas origens se perderam no tempo. Os homens cantam durante a longa espera. As mulheres cantam durante a labuta diária.

Isole di fuoco
Vittorio de Seta, 1954, 11

Ao norte da Sicília surgem do mar a ilha de Stromboli e as Ilhas Eólias. Aqui as chamas saem, novamente, das entranhas da Terra, e ameaçam a vida dos homens. É por essa razão que os habitantes pouco a pouco abandonaram a ilha e emigraram para outros continentes. Este documentário foi filmado durante as erupções vulcânicas de dezembro de 1954.

Parabola d’oro
Vittorio de Seta, 1955, 12’

Todo ano, durante o verão sufocante da Sicília, a parábola cíclica da colheita se repete. Em algumas partes da ilha, o grão é colhido e ainda debulhado com mulas, com o vento e com o suor dos rostos

Pasqua in Sicilia
Vittorio de Seta, 1956, 9’

O drama da morte e da ressurreição de Jesus é celebrado em pequenas vilas na Sicília, com representações que refletem comoção e imediata sensação de participação.

Contadini del mare
Vittorio de Seta, 1956, 10’

Ao largo da costa da Sicília, os pescadores esperam pelo atum, que, por milénios, vem seguindo a mesma rota.

Pescherecci
Vittorio de Seta, 1958, 11’

Há milhares de homens nos barcos de pesca. Dia e noite, eles cobrem o vasto mar entre a Sicília e a África. Eles buscam refúgio na ilha de Lampedusa durante tempestades.

Pastori di Orgosolo
Vittorio de Seta, 1958, 10’

Sopramonte Orgosolo, na Sardenha, refúgio de fugitivos e bandidos. Neste deserto pedregoso, hoje, poucos pastores resistem à fome e ao frio para manter seus rebanhos.

I dimenticati
Vittorio de Seta, 1959, 20’

Estamos na Calábria, precisamente em Alessandra del Carreto, uma pequena aldeia esquecida nas montanhas, dividida pela estrada asfaltada de 18km…Isolados do resto do mundo, cerca de 1600 habitantes esperam por agua, rodas, esperança, mas recebem vitalidade participando num ritual da primavera.

O Governo de Moçambique e o UNICEF repatriam refugiados moçambicanos que se refugiaram no Zimbabwe , por causa da guerra imposta pela África do Sul. Espungabera é um novo lar para milhares de pessoas.

The Government of Mozambique and UNICEF repatriate Mozambican refugees who had fled to Zimbabwe because of the war imposed by South africa. Espungabera is a new home for thousands of people.

Rodrigo Gonçalves, 1987, Moçambique, 25’

6º Dockanema | Ciclo de filmes:  Sergio Rodrigo Gonçalves Bustamante

Amelia planeia ter quatro filhos, porque há que levar em conta as doenças comuns em Moçambique. Com quatro filhos, existe a possibilidade que sobrevivam dois ou três. Amelia e as outras moçambicanas conhecem esta historia, olhos que gritam, corpos anestesiados pela fome e a doença .

Sergio Rodrigo Gonçalves Bustamante nasceu em Santiago de Chile em 1951. Estudou pintura e cinema (direcção, dramaturgia cinematográfica) em Chile e Suecia e trabalhou muitos anos em Moçambique. Ensinou cinema na Universidade Arcis e realizou 45 documentários em Chile, Suecia, Cuba, Bolivia, Moçambique, Zimbabwe, Malawi, Swazilandia, além de 15 spot em Moçambique e Chile. Dirigiu mais de 300 capítulos do programa cultural “Off the record” e recebeu vários prêmios como director, productor e roteirista.

Rodrigo Gonçalves, 1989, Moçambique, 25’

6º Dockanema | Ciclo de filmes:  Sergio Rodrigo Gonçalves Bustamante

“Nós cavamos grandes abrigos não só para nos protegemos dos bombardeamentos mas também para viver neles. Os nossos abrigos não são buracos onde nos escondemos. Foi-nos dada a ordem de transformar abrigos em postos de combate. Os nossos abrigos são os nossos postos de combate.”

O 17º Paralelo, Joris Ivens, França, 1968, 11’

Joris Ivens nasce na Holanda em 1898, ano em que Emile Zola publica “J’Accuse” e morre em Paris em1989, ano do massacre de Tiannanmen e da queda do Muro de Berlim. Foi um cineasta do século XX que  filmou o quotidiano e as utopias dos homens. O “Holandês voador” começou a filmar em 1912 e realizou mais de 80 filmes por todo o mundo. A sua filmografia é um exemplo de conexão de culturas, países e géneros cinematográficos. Joris Ivens começou a trabalhar com simples câmaras de mão, filmando a preto e branco, sem som. A câmara que usou para realizar “De Brug / The Bridge” (1928) foi uma Kinamo, tendo Ivens feito pesquisa com Emanuel Goldberg, o inventor desta câmara manual, usada por cineastas como Dziga Vertov, Jacques Cousteau e Jean Vigo. O dispositivo técnico era composto com um mecanismo de mola que só podia conter um rolo de filme de 7,5 metros, permitindo a feitura de filmes curtos. A partir desses projectos muito simples, com pouco dinheiro, os seus filmes começaram a crescer em complexidade, realizando filmes a cores, com som e com mais dinheiro. Joris Ivens foi um dos pioneiros do filme documentário e era apaixonado por cinema. A sua obra é acompanhada por um sentido de insubmissão e justiça e abrange uma grande parte da história do cinema. A Fundação Joris Ivens está sediada em Njimegen, onde se concentra grande parte do arquivo fílmico do realizador e nos últimos anos tem-se dedicado à pesquisa e divulgação da obra do cineasta.  

ÁGUA – MOVIMENTO

 Études des mouvements, Joris Ivens, Holanda, 1927, 4’

Imagens do trânsito em Paris. Neste ensaio já é notória a influência dos filmes de vanguarda russos, que pode ser observada nitidamente nas composições diagonais dos planos.

 De brug, Joris Ivens, Holanda, 1928, 11’

O elevador vertical da ponte de Roterdão é o principal objecto de estudo deste filme. Uma obra de engenharia que parece ser uma estrutura eminentemente estática foi o pretexto para Joris Ivens fazer um filme muito dinâmico. “Para mim, a ponte é constituída por um laboratório de movimentos, tons, formas, contrastes, ritmos e as relações entre todos esses fenómenos”. O filme foi prontamente reconhecido pela crítica internacional como uma obra-prima, tornando Joris Ivens no mais conhecido cineasta de vanguarda holandês.

 Regen, Joris Ivens & M.H.K. Franken, Holanda, 1929, 15’

Regen é um filme poema (Cine Poème) sobre a ascensão e queda da chuva em Amesterdão, cidade filmada por Joris Ivens como muitas outras capitais o foram por cineastas de vanguarda na década de 1920 (Moscovo, Berlim, Paris, Nova Iorque). O filme é uma composição impressionista e segue um rumo musical. O realizador, que filmou em diversos locais da cidade, demorou mais de dois anos para cinematografar cenas de chuva suficientes para conseguir compor o filme.

 La Seine a rencontré Paris, Joris Ivens, França, 1957, 32’

O primeiro filme realizado por Joris Ivens, após o seu regresso da Europa de Leste, é um poema em movimento sobre a vida parisiense, nas margens do rio Sena. O poema escrito por Jacques Prévert eleva o filme a uma outra dimensão, e a música, tema recorrente de uma canção infantil, provoca um embate melancólico das imagens. La Seine a rencontré Paris recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, para a melhor curta-metragem e o Primeiro Prémio no Festival de Cinema de São Francisco e o Primeiro Prémio do Festival de Cinema de Oberhausen.

 Rotterdam Europoort, Joris Ivens, Holanda e França, 1966, 20 ‘

Filme sobre um dos maiores portos marítimos do mundo, com um formato híbrido entre a ficção e o documentário. Temas bem conhecidos da filmografia de Joris Ivens são revisitados, como “The Flying Dutchman”, na parte ficcional do filme que retorna ao moderno porto de Roterdão, que recuperou extraordinariamente após os bombardeamentos devastadores da segunda guerra mundial.

Cinemafia, Jean Rouch, Holanda, 1980, 33’

Encontro na praia com Joris Ivens e Henri Storck. Esta entrevista, realizada por Jean Rouch por detrás das câmaras, teve lugar no dia 31 de maio de 1980 em Katwijk, uma aldeia ao longo do Mar do Norte, onde Joris Ivens filmou o seu único filme de ficção “The Breakers” (1929) em co-realização com Mannus Franken.

TERRA – ECONOMIA POLÍTICA 

Komsomol, Joris Ivens, Rússia, 1932, 50’

Documentário sobre a construção de altos-fornos por parte da organização das juventudes operárias comunistas Komsomol, edificados no primeiro plano quinquenal arquitectados pela União Soviética. O filme é ambientado em Magnitogorsk nos Urais, uma cidade industrial com cerca de 200.000 pessoas, construída em poucos anos e na bacia Kubas na Sibéria. O filme é uma homenagem às conquistas dos voluntários, os Komsomol, mas não mostra o lado negro da história: milhares de presos condenados a trabalhos forçados em condições terríveis. Joris Ivens, influenciado pelo cineasta russo Vsevolod Pudovkin, conta a história em moldes documentais escolhendo um protagonista que não é actor mas representa as cenas. Depois da experiência narrativa de Komsomol, esta forma de “história personalizada” docudrama, ressurge em diversos filmes de Joris Ivens.

Nieuwe Gronden, Joris Ivens, Holanda, 1933, 29’

O episódio “Zuiderzee Works” do conjunto de filmes “We Are Building” foi elaborado para um filme mais longo intitulado “Zuiderzee” por Joris Ivens em 1930. Este filme é inscrito com uma  mensagem política e a montagem tornou-se mais compacta e incisiva com a música singular de Hanns Eisler. Após os segmentos sobre a conquista da terra ao mar e o fechamento do dique, o filme continua com imagens da crise económica e a pobreza extrema entre os trabalhadores. O encerramento do dique é uma das sequências de edição mais fortes dos filmes de Joris Ivens.

 Misère au Borinage, Joris Ivens & Henri Storck, Bélgica, 1934, 34’

Filme realizado com Henri Storck sobre as condições de vida dos trabalhadores nas minas de carvão em Borinage, na Bélgica. Henri Storck, uma das figuras principais do filme de vanguarda na Bélgica, pediu em 1933 a Joris Ivens para ajudá-lo a fazer um filme sobre as consequências sociais da greve de mineiros no ano anterior. Ao chegarem à região Storck e Ivens abandonaram as suas preocupações estéticas. Como diz Henri Storck: “Parámos de pensar sobre cinema passando antes a sermos dominados pela necessidade irreprimível de produzir as imagens mais gritantes, nuas e sinceras possíveis que se encravassem à crueldade dos factos que a realidade tinha lançado sobre nós.” Ivens utilizou o método de reinterpretação no filme para incorporar a greve dos mineiros de 1932.

FOGO-GUERRA

Spain Earth, Joris Ivens, E.U.A., 1937, 52’

A produtora “Contemporary Historians” foi criada para angariar dinheiro para a filmagem dum documentário sobre a guerra civil espanhola. A equipa de rodagem contava inicialmente com John Fernhout (Ferno) e com o escritor John Dos Passos, tendo este último sido substituído por Ernest Hemingway. Juntamente com Joris Ivens foram a Fuenteduena, perto de Madrid, juntando-se à frente do exército republicano. Tornou-se num dos grandes filmes sobre a Guerra Civil Espanhola e um dos filmes mais importantes da carreira de Ivens. Como em muitos outros filmes de Ivens encontra-se um equilíbrio entre a vida quotidiana das pessoas e a sua luta para sobreviver. A fotografia poderosa, maioritariamente de John Ferno, combinada com a vigorosa edição por Helen van Dongen e os comentários de Ernest Hemingway tornam o filme numa obra-prima do cinema documentário. A primeira versão contou com a colaboração do realizador Orson Welles, mas sua voz acabou por ser considerada “demasiado bela” para ser combinada com o filme.

 The 400 millions, Joris Ivens, E.U.A., 1939, 53’

Documentário sobre a resistência da China contra a invasão e ocupação japonesa da Manchúria. O Kuomintang nacionalista, liderado por Chiang Kai-Shek e o Partido Comunista colaboraram e uniram-se contra o inimigo comum. O filme começa com o bombardeio japonês de Hankow e mostra todos os aspectos da guerra: as batalhas de campo, os refugiados, os mortos e os feridos, o medo e o sofrimento humano. O filme também coloca a resistência no contexto da cultura milenar da China. Com imagens de Sun Yat-sen, Chiang Kai-Shek, sua esposa Soong Mei – Ling e o futuro primeiro-ministro Chu En – Lai. Joris Ivens trabalha de novo com o operador de câmara John Fernhout (Ferno) e o fotógrafo Robert Capa.

VENTO – FILMAR O IMPOSSÍVEL

Pour le Mistral, Joris Ivens, França, 1965, 30’

Um dos filmes mais poéticos de Joris Ivens na sua primeira tentativa de filmar o vento. O filme através de uma fotografia impossível, uma montagem vigorosa e um comentário poético intenta que o vento se torne visível e tangível. A imagem que começa a preto e branco, transforma-se em cor e termina em “cinemascope” para ilustrar a força do vento Mistral que sopra no sul da França. O cenário inicial era muito mais complexo e ambicioso e consistia num desejo maior que impregna Ivens ao longo da sua vida de “filmar o impossível: o vento”. Como a maioria das pessoas era muito céptica quanto à ideia foi difícil encontrar um produtor para financiar um filme em que a personagem principal é invisível. Finalmente Claude Nedjar disponibilizou-se a produzir o filme, que apesar de muitos problemas financeiros, foi concluído em 1965. Apresentado no Festival de Veneza em 1966 ganhou o Leão de Ouro.

 Une histoire de vent, Joris Ivens & Marceline Loridan, França, 1988, 77’

A última obra de Joris Ivens, feita em parceria com Marceline Loridan, é uma visão da sua própria vida e sobre as mudanças do mundo. Após “Pour le Mistral” este filme é a segunda tentativa de filmar o invisível: o vento. Na China, tentam capturar o vento como um fenómeno natural e como metáfora para as constantes mudanças culturais e sociais. O filme estreou em 1988, no Festival de Cinema de Veneza, tendo Joris Ivens recebido o Leão de Ouro pela sua obra de cineasta. 

O 17º PARALELO – A GUERRA POPULAR

 Le 17ème  Parallèle – La Guerre du Peuple, Joris Ivens, França, 1968, 113’

Documentário extenso sobre a vida quotidiana em Vinh Linh e outras aldeias perto do paralelo 17, linha de demarcação entre o Norte e o Sul do Vietname. Esta área foi fortemente bombardeada durante a guerra do Vietname, obrigando os moradores a viver em parte subterrânea. O filme mostra a engenhosidade ea determinação do povo norte-vietnamitas para defender seu país e sua própria terra. As imagens chocantes, mas “limpas”, o ritmo de edição (para ilustrar o ritmo lento da vida numa comunidade agrícola) e o som sincronizado dos bombardeamentos a ocorrer, conferem a este filme uma relevância cinematográfica.